quinta-feira, 15 de abril de 2010

O monstro

Era para ter sido amor... Mas foi quase uma agressão... Verbo rasgado, língua afiada, sexo, loucura e vazio. O suor agora transformado em lágrima tenta explicar um sentimento - esse que eu já nem sei mais traduzir em palavras... Não houve razão, apenas amor... E eu te amei como ama um monstro, que ao contrário do que parece, ama também a si e, por isso, a si mesmo protege.

Um monstro doce, e ao que se vê, rude... De mãos atadas por não poder mudar o tempo e os acontecimentos... Um ser que posto sob risco, ataca... Mas acaba ferido pela força de seus próprios golpes.

Eu como monstro te quis meu... Não por um prazer momentâneo ou para o meu próprio domínio... Mas, por uma devoção silenciosa... Uma extensão de mim mesma... Um platonismo que considero heróico, digno de ser lembrado pela eternidade... Não com menções honrosas ou títulos de bravuras, mas por dignidade, pelo esforço em resistir tanto tempo a desejar alguém...

Esse monstro incompreendido só te quis amar, te possuir por mais do que alguns instantes, e quem sabe, equivocadamente submetê-lo aos seus caprichos infantis... Mas era amor... Íntegro, louco, desprendido, seja como for... Amor, do qual fez nascer em mim, o desejo de viver a eternidade de cada minuto ao seu lado e sumir dentro de você pra sempre...

Eu te reproduzia em tudo... Imagem, sombra, calor, perfume, sabor... E tudo se perdeu no bambear das cordas que sustenta o tempo... O que será de mim agora? Não sei... A única certeza que tenho é de sentir algo mais forte do que uma simples dor... Talvez a consciência total da perda, aquela irreparável... O fracasso que se revela no fim... O arrebentar da ferida que a muito latejava.

Agora é dor, verdadeira... Ínfima, Insistente... Dor... Que mata o monstro aos poucos, gotejando, querendo, pensando, desejando e nunca mais, amando...”
 

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